quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Portraits

Passei a vida sonhando com aquele amor certinho, bonitinho, morninho, que bate cedinho à nossa porta e fica pra sempre no coração, que trás um casamento perfeito, filhos perfeitos, e uma vida que minhas amigas invejariam, embora cada uma tenha seu par perfeito, seu casamento de conto de fadas – ou do vigário – com uma churrasqueira no quintal, crianças de comercial de margarina e uma TV ligada no futebol, sábado à tarde. Quis Deus que eu passasse muito tempo esperando e, graças a Ele, esse amor não veio. Não desperdicei meus melhores dias com diminutivos, com um punhado de afeto pré-fabricado, com satisfações à sociedade e frustrações debaixo do travesseiro. Amei torto, grande, intenso. Meu amor me fez feliz, sorridente, sonhadora e prática, fez com que eu soubesse que era mulher, em todos os sentidos, sob todos os aspectos. O amante perfeito é o que mantém seus pés no chão, e leva sua cabeça, sua boca, seus seios e todo o resto do pacote a outras dimensões. Eu o tive, e o tenho ainda, na minha cama, no seu sorriso, no fundo de meu peito e em todos os lugares onde o quisesse, de todas as formas que se pode querer sentir. Fomos amigos, confidentes, companheiros, fomos felizes. Satisfeitos com nossa vida, cheios dela, vida por todos os cantos, por cada poro. Ele temia tanto amor e eu o amava mais por isso. Sua fragilidade me emocionava, sua força me fazia cada vez mais orgulhosa, era um homem construído no dia a dia, se esforçava cada vez mais para sê-lo e eu sentia prazer em vê-lo crescer, sentia-me segura por aprender com ele, por ser expectadora privilegiada da luta diária para manter o rumo de acordo com seus princípios. Foi difícil vê-lo ir, algumas vezes. Hoje não preciso esconder que chorei sozinha a falta da única coisa que me completava, seu sorriso cúmplice. Eu sempre soube que ele me entenderia, quando eu mesma não sabia bem o que estava fazendo. Eu sempre tentei compreendê-lo, ainda que tivesse querido gritar ‘FICA COMIGO’ mais de uma dúzia de vezes, ainda que não soubesse bem o que ele queria em algumas ocasiões. Ele achava meu amar estranho, eu refleti um pouco sobre seu não-amor, e me importei tanto com minhas conclusões estranhas que hoje nem lembro bem quais foram. Aprendi a não questionar, já que amor não precisa de respostas. Não precisa de palavras, pra ser exata. Amor não precisa de legendas, ou tradução, não carece daquela coisa mesquinha de esquadrinhar cada traço do sentimento pra que se possa sentir, amor não sai pronto, não tem tempo ou espaço, nem hora marcada nem dia no calendário. Cada passo no meu dia girava em torno de ser feliz, de ver seu rosto – o amor em carne, osso e um jeito de me levar à loucura - através do vidro do carro e de saudá-lo, quando ele se acomodava ao meu lado e perguntava, invariavelmente, ‘E AÍ, O QUE VOCÊ QUER FAZER?’. Eu, dependendo do dia, respondia: ‘O QUE VOCÊ QUISER!’ ou ‘FICAR COM VOCÊ, MEU AMOR’. Tive tudo o que podia ter desejado, do nosso jeito. O jeito do resto do mundo não me importava, e depois de algum tempo passou a não importar para ele, também. Foi terno, doce, inebriante. Nos roubava os sentidos, inclusive o do que era real, criou uma realidade paralela da qual nunca quisemos escapar.







Sally, epitáfios e afins...

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