sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O tempo mudou e trouxe a melancolia que o vento frio e o céu cinza costumam trazer, trouxe mais coisas junto, devo dizer...
Claro, ele a conhece bem. Óbvio, está preocupado, triste e não confia nada no instinto de auto preservação que ela deveria ter. Ela aprecia o cuidado, mas também é óbvio que ela nunca vai saber como demonstrar isso, não com ele. Ela sabe que ele se magoa facilmente e esse foi mais um dos momentos em que eles simplesmente não sabem o que fazer...



- Você não ligou! Você nem disse o que aconteceu! Sabia que foi a minha mãe quem contou sobre os seus braços? Sobre as manchas e essa droga que você chama de rim??? Você nem tentou ma avisar! - e ele não se conformaria facilmente.
- E você sabe que não pode fazer nada, que não vai poder comprar rins novos pra mim e que te preocupar só ia trazer mais incômodos desnecessários! Eu estou bem, e vocês falam como se eu estivesse à beira da morte! É só uma doença, que se cura com remédio! Dá pra parar com o drama?
- É, e o palhaço aqui nem precisava saber... Você nunca precisa de nada! Seus amigos são sua companhia pro almoço, ou pra uma tarde no shopping! É só isso!
- Me perdoe por eu não ser dependente, mas obrigada pela atenção. E, não, eu não preciso realmente de nada!
- Cara, eu tive que ligar pra minha mãe. E tive que ouvir Deus sabe que tipo de gracinhas! - Barbara devia estar realmente triste com ele, e ele piora sob estas circunstâncias.
- Eu não pedi a você pra ligar pra sua mãe, e acho que a Barbie está exagerando com você! Só que isso não te dá o direito de surtar comigo! E eu estou bem! Por falar em mãe - e ela chega ao ápice do sarcasmo - soube que você esteve com a minha... O chilique dela já passou? Será que eu voltei a ser filhinha da mamãe ou ela ainda insiste em me manter fora da lista de Natal?
- Você devia ouvir à sua mamãe! Ela tem mais experiência que você, é mais velha, sabe...?
- Vão você e a minha mãe pro diabo que os carregue! - ela diz, já dando as costas a alguém que esperava uma tentativa de argumentação, mas ela não quer mais discutir com ninguém, cansou.


Depois de uma hora imaginando como é bom morar tão perto do mar, trabalhar na frente dele e depois de conversar com ele sobre todos os seus problemas mais urgentes, ela volta. E o rapaz ainda está lá, de pé, em frente à mesma janela, esperando.


- Pensei que você nunca mais fosse voltar - ele diz sorrindo.
- Pensei que você fosse desistir - ela responde, olhando pro chão.
- Odeio te conhecer tão bem! - Difícil saber qual dos dois começou a frase, terminada numa gargalhada conjunta.
- O céu está feio, como está o mar...? - claro que ele sabia o que ela esteve fazendo...
- Agitado... Queria ir até a Barra hoje, topa? - retórica, pura.
- Quer jantar?
- Não, quero ir até a praia...
- Eu aceito o convite, mas só se você aceitar jantar comigo. Podemos jogar alguma coisa depois, ou ir ao kart... Ah, a quadrilha confirmou o jogo de amanhã e você prometeu ir. Já que afirma que está bem, acho que podemos nos divertir... - ele gostaria muito de se mostrar menos nervoso, mas a tensão é aparente.
- Eu estou bem, e aceito o jantar. Posso torcer por você no kart, é o máximo que dá pra fazer, eu acho... Eu vou melhorar, mas a dor é meio incômoda pra ficar sentada naquela posição chatinha... - ela não sabe como melhorar as coisas.
- Pode sair agora?
- Claro! Deixa eu desligar essas coisas aqui ou vão passar o resto do dia nos enchendo!
- Lua...? - ela para, admirando como seu apelido fica bem na voz dele - Vou te falar uma coisa, não briga, viu? Eu me preocupo. Sei que fui meio autoritário, né? Mas você me deixa maluco! Saio por uns dias e quando volto...
- Eu não vou morrer! Prometo. Não por esses dias! É uma promessa!
- Eu sei que mais gente, além de mim, torce pra que essa promessa se estenda por todos os anos que a vida tiver pra te dar. Sei que você não fez essa promessa pra mim, mas pensando em muitas outras pessoas. Inveja é algo ruim, mas eu sou humano! Desculpa o jeitão, viu?
- E eu sei que você é chatão assim. E eu te amo assim mesmo! - ela lhe dá um beijo na testa e por um momento sente que ele a odeia - Você dirige?
- Meu carro, lembra? você acha que eu vou deixar você sair por aí, como uma louca, na chuva, com o MEU carro??? Vai sonhando...
- Eu nem percebi que estava chovendo!
- Ai, Lua, você não percebe um monte de coisas nesse mundo! Acho que você é muito prática, sabe?
- Acho que você é muito chato, sabe?
- Quer descer pela escada? Eu te levo no colo! - ele ri.
- Agora é você quem está sonhando!!! - ela corre pra saída de emergência e os dois saem quase juntos do prédio, correndo pela chuva até o estacionamento. Pensam ter escondido os pensamentos um do outro, torcem por isso, na verdade...




Essa história não vai ter um final feliz. Ele odeia saber que ela o ama, como ama a todas aquelas pessoas próximas, e ela odeia a deferência com que ele a trata, por saber que isso se traduz numa obrigação que ela não pode cumprir. Eles amam um ao outro, cada um à sua maneira. E ele lhe deu um CD feito sob medida. Era provável que pudesse ter sido a trilha sonora desse dia.




LOUD:

À Sua Maneira (Capital Inicial)
Fogo (Capital Inicial)
Refrão De Bolero (EngHaw)
Pra Ser Sincero (EngHaw)
Servos Do Castelo (Titãs)
Epitáfio (Titãs)
Seguindo Estrelas (Paralamas Do Sucesso)
Ska (Paralamas Do Sucesso)
Longe Do Meu Lado (Legião Urbana)
Quando Você Voltar (Legião Urbana)






Sally, (in)sensibilidades.

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