domingo, 26 de agosto de 2007

Velocidade me excita. Vento, estrada, mato, poeira e, no fim, os animais mais perfeitos sobre a terra. Senti saudades deles, mas há dois dias viraram presença constante. Precisava vê-los, sentí-los, montá-los e mais uma vez experimentar a brisa no rosto e o cheiro de mato. Acho que o encontro nunca é completo na cidade, tem que ser assim, sol, fazenda, tempo bom, animais doces, mas nem por isso mansos. Tem que ser assim, como me lembro da primeira vez.
Agora, que decidi vir, quero tudo: primeiro a máquina, testando os limites no asfalto, depois os bichos, sem limite de tempo, sem contar os minutos. Só sentir. E foi só chegar pra reconhecer que era o mundo onde eu precisava estar, acariciá-los e perceber que eles não me esquecem...



"- Adoro te ver aqui. Nem sinto medo de ser o carona, sei que nada nesse mundo vai te parar antes que você chegue a este bendito portão. - ele diz.
- Confesso que eu não sabia que causava medo na direção, mas é bom saber que as pessoas confiam em mim quando acham que eu tenho um objetivo!
Ele ri, divertido com a minha indignação, avisa pelo telefone que estamos chegando e continua a me observar.
- O que foi?
- Saudades.
- Você pode vir sozinha. Sabe disso... - ele parece pedir que se diga que sua presença é importante.
- Gosto de companhia. Da sua companhia. Sem contar que, mesmo depois de dois anos, eu nunca chegaria aqui sozinha. Você sabe que eu me perderia, sou uma piada por essas estradas... - antes de terminar de falar vejo que não devia ter completado a sentença.
Paramos em frente à casa. Me sinto em casa, como em nenhum outro lugar. As pessoas aqui têm o dom de me fazer sentir querida, acolhida, desde o dono, que anda quieto ao meu lado, até a cozinheira, que sempre nos recebe com um sorriso.
- O tempo está ótimo... - odeio silêncios muito significativos.
- É cedo ainda, deve ter café...
- Precisamos mesmo?
- Só precisamos do que você quiser fazer... - o olhar meio perdido é desviado em direção ao telefone. Como por todo o resto desse dia, a ligação é pra mim. O caos reina no mundo de onde viemos, mas vamos ter tempo pra isso mais tarde. Agora eles nos esperam, talvez tão ansiosos quanto eu. Estou meio fora de forma, quando amanhã chegar vou estar dolorida e meio mau humorada por conta das minhas costas, vou mal dizer meus descuidos e todo esse peso extra, mas, só por hoje, vou aproveitar."



Ao voltar pra casa, a companhia é o MP3 player. A voz de Elton John ecoa pelos alto-falantes do carro, as janelas fechadas dão a sensação de realmente estarmos sós no mundo, cada um alheio aos seus próprios pensamentos, sem perceber a presença querida no banco ao lado. Ele guia, sabe que estou física e psicológicamente cansada. Os problemas foram até nós, apesar da distância que eu quis impôr para o resto do planeta, hoje. Ainda estou pensando em resolver cada um deles, e o moço não me interrompe. Parece perdido em suas próprias questões, também. Eu gostaria de não saber quais são elas...





Sally, sobre toda a minha (in)sensibilidade.

Um comentário:

Unknown disse...

Acabo de ler seu post e descobrir tudo que não queria saber sobre Harry potter, mas tudo bem, as vezes procuramos uma coisa e achamos outra, o mais importante e ler o seu post, como sempre um exercício delicioso!!!! não sei como passamos tanto tempo sem certas coisas que nos fazem tanta falta!!! Beijos!